principalmente etc.

aquilo que não me mata só me fortalece

ou ao menos é nisso que querem você acredite 🔪🍳

o célebre aforismo de nietzsche parece uma verdade absoluta e certamente é portador de ótimas intenções — assim como o inferno o é. porém, não é preciso fazer muito esforço pra entender que a ideia por trás dessa citação, na boca do coach certo, acaba se tornando uma nova versão do nauseabundo "trabalhe enquanto eles dormem".

dito isso, pra colocar os pés no chão e voltar e ficar colado com a realidade, um mote que talvez faça mais sentido é "aquilo que não me mata só me faz mais ressentido por ter sobrevivido". ou, ao menos, essa é uma ideia interessante que pode ser extraída da frustrante terceira temporada de the bear.

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no mundo da música, o filme whiplash mostra, com outro viés, a mesma ideia de não ceder à mediocridade e procurar se matar, às vezes literalmente, na busca pela perfeição por quaisquer motivos que existam: devoção e idolatria ao produto do próprio trabalho, reconhecimento no geral ou por pares extremamente bem qualificados ou tão somente não acabar a vida como a pessoa normal que foi normalmente esquecida pelas pessoais normais com quem conviveu em circunstâncias normais.

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mas, em the bear, a coisa vai pra um lado diferente. mais saudável e humano — o que parece muito com bundamolice, mas eu quero acreditar que não é (e só o futuro dirá).

de maneira meio contida, com aquela timidez besta tipicamente adolescente de quem está doido pra expor a própria timidez, o protagonista mostra que o caminho da excelência não vale a pena, para ele não, pelo menos. carmen é brilhante de maneira proporcional ao tanto que sofreu e sofre e, agora, ressente o seu brilhantismo porque isso está atrelado a uma série de experiências que o impossibilitam de ser uma pessoa ajustada. sua sócia, sydney, se enxerga em um ponto pretérito à caminhada de carmen, ficando entre seguir com o trabalho caótico ao lado do chefe instável ou alçar voos mais seguros e modestos em busca de mais estabilidade.

enfim, a busca pela excelência dos personagens não os mata, mas será que eles estão realmente se tornando mais fortes?